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A miocardite é caracterizada por alterações teciduais regionais do miocárdio provocadas por um processo inflamatório com graus variáveis de necrose miocitária, Por ser capaz de demonstrar este processo, a ressonância magnética cardíaca (RMC) é considerada um dos melhores exames para seu diagnóstico e determinação prognóstica.
A RMC apresenta ótimo desempenho para análise dos parâmetros morfológicos e funcionais do coração, amplamente validada na quantificação dos volumes, massa e função dos ventrículos, sendo considerada por muitos como padrão-ouro para estas análises. No entanto, o maior valor da RMC na avaliação de pacientes com suspeita ou diagnóstico confirmado de miocardite consiste em sua capacidade de proporcionar adequada caracterização tecidual, identificando tanto a lesão inflamatória nas fases aguda e subaguda, quanto as lesões cicatriciais da fase crônica.
As três principais técnicas da RMC utilizadas na caracterização da lesão miocárdica em pacientes com miocardite são:
– as sequências ponderadas em T2
– o realce miocárdico global precoce (T1 pós contraste)
– o realce tardio
A avaliação do realce miocárdico global precoce é realizada nos primeiros minutos após a injeção do contraste a base de gadolínio (Gd). Na fase aguda da doença ocorre uma hiperemia do tecido miocárdico e extravasamento capilar. Essa alteração fisiopatológica altera a cinética do Gd, tornando sua saída mais lenta nessas regiões acometidas e ocasionando uma maior intensidade de sinal nas sequências ponderadas em T1. Para essa análise é comparada a intensidade de sinal pré e pós contraste da região miocárdica acometida com um músculo esquelético que se encontra dentro do campo de visão da aquisição da imagem (ex: músculo peitoral). Se essa relação (miocárdio/músculo esquelético) for maior que 4x, indica hiperemia e extravasamento capilar causado pela inflamação.
Para definição diagnóstica de miocardite pela RMC são utilizados os critérios de Lake Louise (listados abaixo). A presença de 2 dos 3 critérios resulta numa acurácia de 78%, sensibilidade 67%, especificidade 91%, valor preditivo positivo de 91% e valor preditivo negativo de 69% para o diagnóstico de miocardite pela RMC comprovada por biópsia, tais critérios são:
– presença de edema miocárdico nas imagens ponderadas em T2
– aumento significativo da intensidade de sinal nas imagens com a técnica de realce global precoce
– presença de áreas de necrose e/ou fibrose na sequência de realce tardio
Dessa forma, nos dias atuais, a RMC é recomendada por diretrizes internacionais e pela diretriz de miocardites e pericardites da SBC na avaliação da miocardite.
Referências:
1. Friedrich MG, Sechtem U, Liu P, et al; International Consensus Group on Cardiovascular Magnetic Resonance in Myocarditis.Cardiovascular magnetic resonance in myocarditis: A JACC White Paper. J Am Coll Cardiol. 2009;53(17):1475-87
2. Montera MW, Mesquita ET, Colafranceschi AS, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. I Brazilian guidelines on myocarditis and pericarditis. Arq Bras Cardiol.2013;100(4 Suppl 1):1-36
3. William Dec; How Should We Diagnose Myocarditis, and Is its Recognition Really Clinically Relevant?. J Am Coll Cardiol. 2016;67(15):1812-1814. doi:10.1016/j.jacc.2016.02.036
como é feito esse exame