Esta publicação também está disponível em:
A doença coronariana é uma enfermidade sistêmica que pode se manifestar de forma aguda ou crônica e que tem como substrato anatômico o processo aterosclerótico. Grande parte dos eventos agudos acontecem por rotura de placas ateroscleróticas não obstrutivas e subclínicas.
Estudos anatomo-patológicos pós-morte têm demonstrado algumas características comuns a esses eventos como fina capa fibrótica em placa volumosa com núcleo lipídico, remodelamento positivo e infiltração macrofágica.
Existem diversas técnicas capazes de identificar algumas dessas características como o IVUS e o OCT. Entretanto, são limitadas devido a sua natureza invasiva. Por outro lado, a angiotomografia coronariana apresenta boa resolução para identificar algumas dessas características, de forma não invasiva. Apresento abaixo alguns aspectos das placas ateroscleróticas identificados pela AngioTC que podem significar maior propensão a eventos clínicos (vulnerabilidade):
- Remodelamento positivo: crescimento desproporcional da parede vascular em relação a um segmento saudável (proximal ou distal), podendo ou não comprometer o lúmen.
- Baixa atenuação tomográfica: a trombogenicidade de placas vulneráveis está relacionada ao componente lipídico (core). Em tomografia, componentes lipídios apresentam baixa atenuação topográfica. No caso da AngioTC coronariana, considera-se esse tipo de placa quando a ateuação é inferior a 30 UH (unidades hounsfield).
- Napkin ring sign: seria a representação tomográfica do fibroateroma de capa fina, que somente pode ser visualizado in vivo pelo OCT, em função da sua resolução espacial. É caracterizado por uma placa com core central de baixa atenuação com borda externa de maior atenuação (não superior a 130 UH para não ser confundida com componente calcificado). Embora seja fortemente relacionada a uma placa vulnerável, apresenta baixa sensibilidade muito em função da resolução espacial limitada da AngioTC.
- Microcalcificações (spotty calcifications): são calcificações focais menores que 3mm e que ocupam menos de 90 graus da parede vascular. Questiona-se a real capacidade da AngioTC em reconhecer esse achado em função da sua resolução espacial.
Legal, mas qual o significado desses achados? O que o médico precisa saber quando houver essa descrição no laudo? Veremos isso em detalhes no próximo post, analisando uma subanálise do estudo ScotHeart.